Este caso é interessante por ser crónico, profundo e complexo.
A paciente sofre de certos problemas há muito tempo.
Profundo pois alguns dos problemas surgiram após forte choque emocional e complexo pois a paciente desenvolveu, ao longo dos anos, diversos problemas.
- O que trouxe a paciente foi o desconforto/dor no pescoço e trapézios. A paciente sofre também de hiperlordose.
- Sofre de dor nos dedos nas mãos e pés que agravam no inverno. Quando isto ocorre a cor dos dedos altera-se para um tom cianosado (provável doença de Raynauld ainda não diagnosticada).
- Tem também há diversos anos gastrite provocada por Helicobacter Pylori. Tem refluxo ocasional. Sofre também de colite há cerca de 30 anos.
- A colite surgiu após a perda de um filho em fase gestacional. Desde então que sofre de diarreia e obstipação com a presença de dor abdominal.
- Tende também à hipoglicémia (baixo valor de glucose no sangue).
Abordagem terapêutica
Nestes quadros complexos, é sempre bom começar pelas prioridades. Embora a Medicina Chinesa e, em particular, a acupunctura sejam holísticas na sua essência, nem sempre se pode fazer tudo de uma só vez.
Devemos sempre tentar entender a disfunção geral do paciente mas sem nunca descurar a melhoria do que mais provoca sofrimento.
Sabendo de antemão que alguns problemas serão mais morosos que outros, decidi abordar numa primeira instância a dor sentida na região do pescoço sem nunca descurar todos os restantes sintomas.
O tratamento
No caso desta paciente, para além do tratamento de acupunctura foram recomendadas diversas alterações nas suas rotinas alimentares para começar a promover a melhoria da sua saúde digestiva. Por mais que a acupunctura possa contribuir, e contribui, se não existirem hábitos diários saudáveis é impossível sonharmos com a cura….
Depois de partilhar tudo aquilo que poderia fazer (os alimentos, a forma como come, os horários, etc), começamos o tratamento adicionando também a massagem.
Foram feitos 3 tratamentos até ao momento, no decorrer de 4 semanas.
Nos dois primeiros tratamentos a dor do pescoço e trapézios desapareceu por completo as alterações abdominais também. Entretanto foi de férias durante uma semana tendo viajado para fora do país de avião.
Quando a voltei a ver no terceiro tratamento a dor no pescoço tinha voltado pois tinha passado imensas horas em viagem de avião e também em viagens de autocarro mal sentada (embora a intensidade da dor fosse menor que a original). Para minha surpresa a questão abdominal mantinha-se estável. Mesmo com toda a viagem e alteração de dieta e ritmos, não teve uma única crise de diarreia nem sofreu de obstipação (em praticamente todas as suas viagens prévias a paciente sofria de intensa obstipação, o que a levava sempre a levar laxantes que acabava por usar).
Este caso, ainda em tratamento, tem muito ainda para restabelecer assim queira a paciente. No entanto, fica aqui uma pequena ideia do contributo da medicina chinesa em paciente com um quadro mais complexo.