A medicina tradicional chinesa (MTC) surge há cerca de 5 mil anos. Como todas as grandes medicinas, A MTC por duas grandes vias; a empírica e a filosófica. Por um lado surge o tratamento térmico e manual como formas intuitivas de tratamento, provocando alívios directos; por outro a filosofia, com base na reflexão e observação, permite a estruturação da MTC. Aí a civilização chinesa marcaram a diferença, ao conseguir observar a Natureza, depreendendo os aspectos fundamentais que movem o Universo e imperam no planeta Terra.
Não é por acaso que a civilização chinesa foi mestra no controle das àguas, na criação da imprensa, no trabalho de metais como o bronze, descoberta da bússula (1500 anos antes do Ocidente), descoberta do fósforo (1000 anos antes), etc. Seria entediante enumerar as descobertas chinesas que antecederam as do mundo Ocidental. Estes exemplos servem apenas para clarear o desenvolvimento intelectual e ciêntifico que esta civilização possuia, e ainda possui.
Esta filosofia, que permite englobar tudo, desde a borboleta que poliniza uma flor, até à estrela Polar, entendendo o “Totum” e o seu funcionamento, permitiu também compreender o funcionamento Humano, através da lei do Macrocosmos e do Microcosmos.
Os chineses defendiam e ainda defendem, que tudo o que se passa no infinitamente grande (Macrocosmos), também se passa no infinitamente pequeno (Microcosmos), e que dessa forma tudo está ligado por mecanismo análogos, resta apenas identificá-los. Para isso foi necessário criar uma linguagem simplificada, através de conceitos abstratos, para que todas as pessoas podessem entender.
Um dos primeiros conceitos a ser criado foi o de Qi.
O caractér antigo transmite o efeito do vapor resultante do aquecimento do arroz. Esse vapor é movimento, vento, sopro, ar, energia, conhecido no Ocidente com Pneuma.
Como o próprio caractér indica, Qi está presente em tudo, quer no mundo animal, como vegetal ou mineral. Corresponde ao conjunto de todas as substâncias presentes na natureza, estando também presente em todas as suas manifestações. Qi é capaz de produzir tudo através dos seus movimentos e consequentes transformações. Sem Qi não há vida, sendo este indispensável à sua manutenção.
Os seus movimentos naturais são a subida, a descida, a interiorização e a exteriorização. Esses movimentos vão, de forma primária, originar Yin/Yang e as suas quatro fases
É já no período da dinastia das Primaveras e Outonos e dos Reinos combatentes (722-481 a.c.), conhecido também como o período das 100 escolas de pensamento, que surge a teoria do Yin/Yang, e dos 5 elementos, entre outras. Estas teorias vêm sistematisar ideias já há muito existentes.
Yang | Yin |
Céu | Terra |
Dia | Noite |
Calor | Frio |
Esquerda | Direita |
Alto | Baixo |
A teoria Yin/Yang vai de certa forma dar continuidade ao conceito de Qi, uma vez que são dois aspectos da mesma energia. É o nascimento da dualidade, e por consequência o início da análise dual do Universo. Yin corresponde ao aspecto energético mais denso, enquanto que Yang representa tudo o que há de subtil.
Desta análise distinguem-se 4 estados, associados à quatro direcções e estações. O pequeno Yang (Shao Yang), o grande Yang (Tai Yang), o pequeno Yin (Shao Yin) e o garnde Yin (Tai Yin).
Yang | Shao Yang | Este | Primavera |
Tai Yang | Sul | Verão | |
Yin | Shao Yin | Oeste | Outono |
Tai Yin | Norte | Inverno |
Com as quatro fases, outros mecanismos se entendem, sendo embora estes aqueles que permitem um grande desenvolvimento da filosofia Yin/Yang.
É também sobre o ciclo Yin/Yang que o Fengshui (vento e água) desenvolve todas formas como promover uma circulação energética na casa, como na natureza. Fengshui pode ser considerado como o aspecto externo da MTC, pois através dele podemos equilibrar tudo o que nos circunda.
Na mesma altura surge a escola dos 5 elementos. Os chineses consideraram, a madeira, o fogo, a terra, o metal e a água, como os 5 elementos estruturantes do nosso planeta. Os chineses estudaram as suas relações e a sua forma de manter o equilíbrio.
Foi então desenvolvido os ciclos da criação e da dominação para explicar a forma como os 5 elementos se harmonizam.
No ciclo da criação são observados os mecanismos que levam a criação sucessiva dos elementos. Sendo assim:
“A madeira serve de combustível para alimentar o fogo; o fogo forma as cinzas que compõem a terra; a terra gera o metal nas suas profundezas; o metal purifica-se até se transformar em água; a água fornece o alimento às plantas, formando a madeira.”
Desta forma os elementos garantem a sua continuidade, actuando de forma simbiotica. Para assegurar o eterno equilíbrio, observa-se outra forma de equilíbrio, sendo este um mecanismo de controle, é a lei da dominação.
Para além de cada elemento criar outro, o seu filho, tem como dever, controlar aquele se é criado pelo filho, o neto. Sendo assim:
“A madeira controla a terra com as suas raízes; a terra forma diques e vales controlando assim a condução da água; a água consegue apagar o fogo, o fogo consegue derreter o metal; o metal dá origem às lâminas que cortam a madeira.”
Fica claro que neste período, a civilização chinesa possui um bom entendimento do mecanismo natural, conjuganto também os fenómenos astrológicos aos terrestres (aqui descritos). Conseguem por isso, prever castástrofes naturais, conhecer os períodos auspiciosos para a agricultura, entendendo igualmente os períodos de instabilidade social, politica , económica, etc.
Aplicando este conhecimento ao ser humano, a partir da lei do Macrocosmos e do Microcosmos, a civilização chinesa conseguiu decifrar todos os mecanismos orgânicos, e das suas interacções com a natureza.
Abaixo estão representados alguns exemplos desse entendimento.
Yang | Yin |
Homem | Mulher |
Vísceras | Orgãos |
Qi | Sangue |
Pele | Osso |
Inflamação | Degradação |
Vermelho | Azul |
Através de todo este entendimento, começa a estruturar-se o sistema médico chinês. Há uma grande vantagem que faz da MTC, talvez a mais importante da nossa era. É o facto de se conseguir definir saúde e a a conseguir preservar. Esse é o principal objectivo da MTC, conservar a saúde.
Numa altura em que se tenta, a todo o custo, descobrir o elixir da juventude, da saúde eterna, do bem estar, com a manipulação genética, gestação de células estaminais, tratamentos “anti-aging”, a MTC tem todas as respostas que procuramos. Talvez ainda não estejamos preparados para reconhecer a simplicidade da saúde, e não tenhamos a humildade suficiente para aceitar receber conhecimento de uma medicina que não assenta no actual paradigma cientifico. Uma coisa é certa, a MTC é uma das medicinas actuais mais velhas, mas também uma das mais actuais. Para isso basta ver que desde a formação do sistema médico que a MTC não de destruturou, muito pelo contrário, tem-se revelado cada vez mais útil. Á medida que novas doenças aparecem, a MTC continua a fornecer as armas necessárias para as tratar. Ao contrário da medicina alopática, que está constantemente desactualizada e que não consegue combater doença alguma sem antes a ter estudado. Isto quer dizer que no momento em que surgir uma doença mortal com um alto índice epidémico, a “nossa” medicina não terá qualquer capacidade de a parar.
A MTC é cada vez mais acreditada e mais aclamada, pois todos os dias surgem estudos ciêntificos ocidentais a comprovar os seus efeitos, cada vez mais se confirmam os tratamentos efectuados, que antes eram criticados e aniquilados. Este é outro problema da actual ciência. Em vez de se analisar o que se desconhece, a tentação é de aniquilar qualquer acontecimento que não tenha ainda, como era o caso da MTC, uma compreensão ciêntifica. Não haver explicação cientifica para algo, não significa que esse “algo” não exista ou seja uma mentira.
Para a MTC existe um dogma àcerca da saúde; “manter a livre circulação de Qi”. Isto é o que cada um de nós deve fazer. Se o conseguirmos, seremos saudáveis. Algo de simples, talvez demasiado simples para alguns. Mas porque haveria de ser complicado? Se o fosse estariamos todos extintos! Todos os seres ditos “irracionais” teriam morrido por não terem a inteligência para sobreviver.